LIÇÕES PARA UMA VIDA LONGA E SAUDÁVEL

 

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Pesquisas indicam ser possível adotar um estilo de vida favorável à longevidade com saúde

 

Por Telma Anunciato (*)

 

Um dos sonhos humanos é de uma vida longa ou até mesmo da imortalidade, desejo bastante antigo e que continua vivo. Dos alquimistas à procura do elixir da juventude aos dias de hoje, dentro dos laboratórios dos pesquisadores da engenharia genética, o homem ainda empenha-se nessa busca.

 

De acordo com estatísticas do IBGE, a expectativa de vida no Brasil é de 76,8 anos. Cabe a pergunta: seria possível prolongar os anos vividos com qualidade, sem poções mágicas ou as soluções genéticas que estão prometidas para além dos anos 2050?

 

Demógrafos e cientistas descobriram que sim. Só que a boa notícia ainda não foi amplamente divulgada.

 

 

Os estudos começaram em 2004, motivados pela descoberta de regiões no planeta com maiores concentrações de longevidade, cerca de 20 a 30 anos a mais do que a média mundial.

Essas regiões foram batizadas de “blue zones” – zonas azuis, em tradução literal. São elas: Sardenha (Itália), Okinawa (Japão), Loma Linda (Califórnia, EUA), península de Nicoya (Costa Rica) e Icária (Grécia). Coincidência ou não, três delas são ilhas.

 

O que essas regiões distantes e desconectadas umas das outras, com diferentes padrões culturais, possuem em comum? E o que podem nos ensinar sobre longevidade?

 

Desvendar este mistério foi a intrigante missão abraçada por  estudiosos, diante do que poderia vir a ser a tão esperada fórmula para se viver mais e melhor.

 

Vale ressaltar que a alta proporção nestes locais de pessoas com mais de 90 a 100 anos, vivendo com autonomia e baixos índices de doenças crônicas e limitações, foi o que despertou a atenção para a possível existência de fatores que poderiam ser identificados e multiplicados para o restante do mundo. E até onde se sabe, as descobertas são animadoras e estão sendo testadas em outras regiões – e com comprovados resultados positivos.

 

Afinal, qual a receita a ser seguida? 

A resposta pode não agradar aos que esperam uma solução disponível em cápsulas nas farmácias, já que uma vida longa e saudável é feita de escolhas que envolvem hábitos cultivados em longo prazo, naturais, para alguns, e nem tanto para a grande maioria da população mundial.

Duas importantes premissas sustentam essa tese:

- Preservar a saúde é diferente de combater doenças para adiar a morte;

- O ambiente é responsável por 80% do envelhecimento saudável, e a genética é responsável por apenas 20%.

“Esses dados são muito bons, afinal, o ambiente é mais fácil de controlar do que a genética. No futuro teremos condições de editar genes e controlar o DNA também”, afirma Mayana Zatz, bióloga molecular e geneticista brasileira, professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. 

 

O caminho poderia ser mais fácil. No entanto, estatísticas relativas a doenças crônicas, sobrepeso, obesidade e sedentarismo, somadas a circunstâncias como desastres ambientais e, mais recentemente, a pandemia, não denotam por parte da humanidade a habilidade no trato com hábitos e ambientes mais saudáveis, seja no âmbito individual, no social ou no político.

Felizmente, quer motivadas pela consciência ou pela catástrofe, o engajamento e as iniciativas de pessoas e lideranças se multiplicam, para abordar as mudanças necessárias. Abaixo, os nove mandamentos rumo a uma vida longa e saudável.

 

9 lições das “blue zones” para a longevidade sadia

 

1) Em suas rotinas, os habitantes desses locais movem-se naturalmente – o entorno onde vivem provoca o movimento, sem que precisem pensar sobre isso.

 

2) Propósito – por que você levantar todas as manhãs? O senso de propósito pode prolongar a vida em até sete anos.

 

3) Controle do stress como rotina. O stress aumenta a inflamação crônica e predispõe a doenças.

 

4) ”Regra dos 80%” – param de comer quando o estomago está 80% cheio.

 

5) Alimentam-se predominantemente com vegetais: legumes, verduras, cereais, grãos, castanhas e frutas. Consomem carnes em média cinco vezes ao mês.

 

6)Consumo moderado de bebidas alcóolicas, relegado especialmente a ocasiões sociais.

 

7)Praticam atividades espirituais ao menos quatro vezes ao mês. Práticas ligadas à fé e espiritualidade podem aumentar a expectativa de vida em até 14 anos.

 

8)Colocam a família em primeiro lugar: cuidam dos idosos, comprometem-se com os parceiros e dão (muita) atenção às crianças.

 

9)Nasceram ou escolheram viver em círculos sociais que apoiam ou favorecem os seus hábitos saudáveis.

 

 

 Ou seja, mais do que uma esperança, é real a possibilidade de viver mais e melhor. Tão mais fácil será alcançar esta meta quanto mais pessoas ao redor estiverem informadas e praticando escolhas que provoquem lideranças e organizações a facilitarem este caminho.

Autor do best-seller “Zonas Azuis da Felicidade: Lições das Pessoas Mais Felizes do Planeta”, o jornalista, escritor, pesquisador e explorador americano Dan Buettner, membro da National Geographic e descobridor das “zonas azuis”, cunhou uma citação célebre que serve de reflexão: “O cálculo do envelhecimento nos oferece duas opções: podemos viver uma vida mais curta com mais anos de deficiência, ou podemos viver a vida mais longa possível com menos anos ruins. Como meus amigos centenários me mostraram, a escolha depende em grande parte de nós”.

 

 

(*) Mentora em desenvolvimento humano, co-fundadora e voluntária na ABPASS – Associação Brasileira para a Promoção da Alimentação Saudável e Sustentável.